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domingo, 13 de maio de 2012

Intuições (de guerra)

Tenho a sensação de estarmos vivendo uma terceira guerra mundial. Porém, de outra forma, esta se manifesta hoje em micro-escalas. Mas o estrago inegavelmente é mundial. A truculência – essa palavra – a truculência age sua massificação e oprime, normatiza, corrige e determina a vida e sua diferença. O hábito consome a todos e a todas. Sinto ser cada vez mais necessário o meu trabalho enquanto artista.

CONCRETO ARMADO nasce de um punhado de intuições que, desde o início, foram sinônimos de guerra. É uma luta pela civilidade e pela consciência. É uma luta consigo próprio porque é muito fácil dizer mas se expressar errado. É muito fácil defender uma coisa e, de súbito, se perceber defendendo justamente outra , até mesmo o contrário daquilo que se pretendia.

Este projeto nasceu em novembro de 2011. Eu tinha acabado de estrear o quarto espetáculo do Teatro Inominável, SINFONIA SONHO. Era novembro quando, após a estreia, eu quis me voltar ao mundo, aos seus acontecimentos, dramas e absurdos. O que fiz? Comprei revistas e jornais daquele instante. Tenho a ligeira sensação que abrir os olhos e mirar o mundo já não é estratégia capaz de assimilar suas engrenagens. As relações mundanas e interpessoais sofrem o excesso da maquiagem destes tempos. A mentira reina hegemônica. É difícil acessar o outro.

Assim, lacro-me em meu quarto para a partir dele – quem sabe? – conseguir limpar a vista e desinfetar o tato, desembrutecer o peito e desanuviar o horizonte. Fiquei umas semanas lendo e lendo e pensando e tramando e eis que encontrei (seria em mim ou no mundo?) o desejo de realizar CONCRETO ARMADO. A princípio – e ainda agora – um desejo sem forma, sem cuidado, quase sem afeto. Um desejo revoltado, juvenil e concentrado. Um desejo de revolução (sem preocupação com o tamanho desta. A quantidade é tudo o que não importa).

Lendo a edição de novembro de 2011 da revista Le Monde Diplomatique Brasil, que trazia um especial sobre os impactos da Copa do Mundo de 2014 no Rio de Janeiro, descobri do que se trataria esse projeto. CONCRETO ARMADO quer apresentar uma dramaturgia que possa antecipar os estragos da Copa do Mundo em nossa cidade e país. CONCRETO ARMADO quer trazer à consciência – nossa e de nosso público – certas perversões que caminham no correr dos dias vestidas de normalidade. CONCRETO ARMADO quer explodir a reificação e revelar o pavor concentrado em eficazes belezas mil.

CONCRETO ARMADO deseja reunir lenha, pessoas e bastante pólvora. É guerra explícita e declarada. É solicitação extremada de maior cuidado e afeto, de mais tempo e menos velocidade. É projeto contra-corrente. É projeto do contra porque ser a favor está nos levando rumo à ruína de nossa civilização. Rumo à destruição do nosso presente e do nosso futuro mais imediato.

Nunca falei tanto em civilização.

É coisa grande demais. Por isso uma ficção. Para explodir em personagens e tramas a tragédia de nosso tempo. Não temos solução. Não a teremos. Mas a consciência, a consciência é a minha maior crença. Se pudermos ao menos dialogar sobre os percursos já feitos e ainda planejados, então estaremos – de fato – agindo os nossos dias.

Este projeto de espetáculo teatral ainda não começou a se desdobrar em sala de ensaio. O Teatro Inominável começa a buscar o devido financiamento para que possamos, durante meses a fio, pesquisar e criar nossa expressão deste agora. Aqui neste blog, vou postando o processo que segue acontecendo desde novembro de 2011, quando tive a vista e o coração capturados pelas engrenagens de alguma, ainda invisível, obra.

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