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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Meu trabalho é a arma do manifestante, aponta Latuff
JC – Depois, os manifestantes foram divididos entre os bons manifestantes, os black blocks e os saqueadores – oriundos das favelas. A periferia acabou rechaçada?
Latuff – Se as manifestações não forem hábeis em trazer essa militância da favela, não vão adiante. O segmento mais massacrado e vitimado por esse sistema em que as pessoas vão para a rua combater é o das favelas. A imprensa tem um tratamento específico quando a manifestação é na favela: “é manifestação controlada pelo tráfico”. Claro que tem dois tipos de manifestantes: o bom e o mau. Quando o manifestante vai para a rua, queima pneu, tranca a via, desce a favela e o morro, vira carro, “é o tráfico que está junto”. E existe o manifestante “coxinha” da favela, que é do Viva Rio, Afroreggae e Cufa. Esse ativista, que é correio de transmissão das políticas do Estado, é o bom ativista. Não se pode imaginar um processo de transformação que não tenha a favela. Costumo sempre dizer: “no asfalto a bala é de borracha, na favela é de chumbo”. As favelas são territórios de exclusão muito especiais. Estive em várias, fiz ensaios fotográficos. Um em particular é a essência desse processo da chamada guerra contra as drogas. Em Acari, ia andando e tinha buracos, rombos pelo chão, no concreto. Me falaram que aquilo era tiro do helicóptero, jogado de cima. A polícia do Rio de Janeiro tem uma arma igual ao que o Exército norte-americano usou no Vietnã.
JC – Porque a militância da favela não cresce?
Latuff – Tem três coisas que impedem de avançar. Uma é o tráfico. Porque o tráfico, no momento em que ele tiver que escolher entre o manifestante e o Estado, ele vai topar o Estado. O traficante não é um revolucionário, é um comerciante e só existe por força do Estado. Ele não é um revolucionário de esquerda. As armas que chegam na mão dele, a droga, não é um avião que joga de cima com um paraquedas. O segundo são as igrejas evangélicas. Na favela tem igreja evangélica em cada buraco e ela está ali para formar cordeiros que abaixam a cabeça. O terceiro são as ONGs, que estão lá também para formar neguinhos dóceis. Negros e favelados dóceis que acreditam que um dia, se trabalharem muito, chegarão lá. É por isso que existe uma tensão tão grande na favela. Porque o establishment sabe que as favelas são bolsões de revolta social.
JC – A ideologia da nova classe média contribui para isso? Ela individualiza o problema que é social?
Latuff – Este regime que a gente vive trabalha com a sensação. Você tem sensação de democracia, sensação de cidadania, mas não existe. Claro, evidente que o pobre tem direitos de comprar bens de consumo, é bom que ele tenha essa possibilidade, ninguém discute isso. Mas o que define a cidadania não é o fato de comprar um celular novo, é o de ter serviços públicos de qualidade. Afinal de contas, estes favelados também pagam impostos e têm os mesmos direitos. Mas o regime capitalista funciona pela exclusão. Não posso cobrar do regime capitalista que ele seja includente. Ele é excludente por natureza, trabalha com o regime de classes. Tem que ter uma classe que gasta e outra que banca o gasto. Uma classe que é patrão e outra que é empregado. Não adianta tentar mudar o capitalismo. Não dá. É preciso dizer isso claramente. Não é reforma que a gente precisa é de uma mudança.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Rio de Janeiro: Favela do Esqueleto
pouco a pouco
"Maracanã encolhe, mas ganha inovações e sustentabilidade"
"O Estádio da Final da Copa do Mundo de 2014 - Maracanã / Fernandes Arquitetos Associados"
Ano: 2011
Tipo de projeto: Esportivo
Operação projetual: Reforma
Status: Construído
Materialidade: Concreto
Estrutura: Concreto e Aço
Localização: Rio de Janeiro, Brasil
Implantação no terreno: Isolado
Equipe
Responsável: Fernandes Arquitetos Associados
Cliente: Governo do Estado do Rio de Janeiro
Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-63966/estadios-da-copa-2014-o-estadio-da-final-da-copa-do-mundo-de-2014-maracana-fernandes-arquitetos-associados
domingo, 22 de dezembro de 2013
Eleonora
Quando a Tina foi embora - Tina foi a minha babá. Quando ela foi embora eu entendi que babá não é família.
A separação da minha mãe e do meu padastro - Eu perdi um pai.
Primeira vez que eu vi uma peça minha filmada (com 14 anos) - a partir desse dia fui em busca de um corpo mais preciso e expressivo.
Férias com a minha família no verão de 2008 / 2009 - quando eu me senti parte de um lugar.
Primeira vez que eu tomei daime - o mundo se tornou mais lindo e complexo do que a dimensão do meu corpo.
Minha aproximação com o circo - minha iniciação enquanto ser político.
O ALTO RISCO DE UM ATO --- Por Rodnei Nascimento
Artigo que faz um comentário sobre o livro DESERTO DO REAL de Slavoj Zizek
Leiam o curto texto completo em
http://www.forumpermanente.org/rede/numero/rev-numero7/rodneiparaSete
Seguem trechos:
É por isso que Žižek propõe como modelo de ação um Ato, na acepção lacaniana do termo, que rompe sim com as coordenadas de intervenção oferecidas pelo presente, mas sem cair na tentação de querer estabelecer uma identidade plena dos indivíduos com o mundo. Um Ato preservaria sempre um espaço de antagonismo entre os agentes e suas formas de representação.
Por trás dessa concepção está a idéia de que o antagonismo é única forma de relação autêntica possível com o mundo, visto que somente ele faz justiça à natureza da subjetividade humana, marcada por um princípio de inadequação entre si mesma e suas formas de representação. Toda tentativa de reconciliação absoluta seria não apenas falsa, ideológica, mas também uma violência a seu caráter essencial. Preservá-lo seria a única maneira de manter aberto o horizonte da ação humana e de conferir-lhe algum poder de intervenção criadora sobre a realidade.
Não se pode deixar de reconhecer a engenhosidade da solução do pensador esloveno que, ao complementar a noção hegeliana sobre a negatividade da vontade com a inadequação essencial do sujeito tirada de Lacan, previne-se contra a queda do Ato numa identidade absoluta. Mas também não se pode deixar de constatar que tal estratégia comporta um alto risco. Pois um Ato não se estrutura pelas coordenadas do presente nem se deixa fixar positivamente, ele é “um passo no desconhecido, sem garantias quanto ao resultado final”. Ou seja, comporta um sério risco de arbitrariedade, porque sua legitimidade não pode ser comprovada de antemão, nem se pode saber como será o seu fim.
Aceitar esse risco torna-se, entretanto, um imperativo no momento em que os referenciais disponíveis para a ação não são mais capazes de ensejar uma verdadeira mudança. A situação daqueles que se engajam num Ato seria semelhante à política revolucionária, em que a tomada de poder jamais pode obter validação dentro da própria ordem a ser derrubada. Nesse instante, “alguém tem de assumir o risco e agir sem legitimação, engajando-se numa espécie de aposta pascaliana de que o Ato em si há de criar as condições para sua própria legitimação”. Como se vê, a tarefa é perigosa, resta saber quem será capaz de assumi-la.
sábado, 21 de dezembro de 2013
Mabel
1- 1992: Acidente de carro. Minha tia-avó tem o fêmur destroçado, minha mãe perde a memória. Só sabe proteger seu bebê, mesmo não tendo certeza se é seu.
2- 1994: Homens invadem a casa de férias onde estamos hospedados. Fazem minha mãe de refém durante horas, roubam a arma do meu pai e todas as coisas de valor da casa. Meu pai desafia o poder e, mentindo, vai ao quarto onde estão as crianças pra ver se (ainda) está tudo bem.
3- 2002: Meu pai vai embora de casa. Minha mãe entra em depressão profunda, me fazendo crescer da noite pro dia. A criança aprende a se virar, a ser sozinha. Entendo que a vida é isso.
4- 2006: Recebo uma ligação do meu irmão avisando que está indo embora pra Santa Catarina. Não da tempo de se despedir. Foi de propósito. Não bastasse a metade da minha família ter ido, me levaram o irmão. Durante anos choro todos os dias, sentindo um buraco vazio que nada é capaz de tampar.
5- 2008: Minha tia-quase-mãe perde a luta contra o câncer. De uma forma brutal, acompanhamos o seu definhar. Mais uma vez, o universo tira de mim uma pessoa querida.
6- 2013: Minha mãe me entrega um envelope contendo cartas do ano de 1986. Ela e meu pai se comunicam da forma mais linda, delicada e atualmente extinta. Percebo que o amor já fez parte da minha família e deu origem a mim. Um sentimento indescritível de dor e emoção toma conta e escorre pelos meus olhos. Um dia pra nunca mais esquecer.
7 - 2013: Nenhum acontecimento específico, mas todos ao mesmo tempo. Um ano de tanto aprendizado... não sei resumir em palavras o quanto me abriu os olhos e alterou a visão de mundo que eu tinha. Me sinto, enfim, preparada pra ser mãe.
Riane
Encontro #5
De 11h às 15h - Apto da Flávia
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Antonisia.
Momento 1 (1988)- Vim morar no Rio de Janeiro com sete anos. Vi um homem sujo, descalço e bêbado, falando sozinho na rua Siqueira Campos, esquina com Domingos Ferreira. Ele era um mendigo e eu nunca tinha visto um mendigo antes.
Momento 2 (1992)- A minha família foi acometida por uma triste doença chamada alcoolismo.
Momento 3 ( 1993)- Vovó Iacy faleceu com um tumor no cerebelo.
Momento 4 (1996)- Caminhava alegremente pela rua figueiredo Magalhães quando, na esquina com a rua Domingos Ferreira, um homem enfiou a mão na minha bunda e passou por mim soltando uma gargalhada. Peguei uma pedra portuguesa que estava solta na calçada e joguei na direção da cabeça dele.
Momento 5 (1999)- Conheci o meu primeiro amor.
Momento 6 (2001)- Fiz um aborto.
Momento 7 (2012)- Visitei o meu tio avô, que estava há algumas semanas na cama do hospital, de olhos fechados e sem reação alguma. Cantei uma música do Caetano para ele, e no verso onde dizia " futebol e carnaval" ele abriu os olhos e os direcionou aos meus.
PAOLO
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
FIFA concorre ao Public Eye Awards 2014,
Public Eye Awards 2014
http://publiceye.ch/pt-pt/
Causas
A FIFA causou grandes danos a vários brasileiros. A empresa não tem senso de responsabilidade e nega qualquer conexão com alegações de violação de direitos humanos. Sua promessa de deixar um legado positivo contrasta fortemente com a realidade até agora.A FIFA impôs ao país anfitrião uma série de condições que contribuíram para essas violações. Suas práticas de negócios fazem com que seja cúmplice de violações dos direitos das pessoas.
A associação parece acreditar que a “urgência” relacionada aos seus projetos de infraestrutura, bem como o lucro que alegam que o evento proporciona à sociedade, justifica seu comportamento irresponsável. Além disso, a empresa está isenta do pagamento de impostos, privando o Brasil de pelo menos 1 bilhão de reais (mais de 400 milhões de dólares).
"Leia íntegra da carta de Snowden ao Brasil"
EDWARD SNOWDEN
PV_Arquitetura
ARQUITETURA
O ambiente físico no qual você está trabalhando e como a consciência dele afeta o seu movimento. Quantas vezes assistimos à peças em que há um cenário suntuoso e intricado cobrindo todo o palco e os atores, ainda assim, permanecem com dificuldade na exploração da arquitetura que os envolve? No trabalho da ARQUITETURA como ponto de vista, nós aprendemos a dançar com o espaço, a estar em diálogo com a sala, a deixar o movimento (especialmente FORMA e GESTO) evoluir para fora de nosso próprio espaço.
ARQUITETURA é dividida em:
MASSA SÓLIDA. Paredes, chãos, tetos, mobiliário, janelas, portas, etc;
TEXTURA. Se a massa sólida é de madeira ou metal ou tecido modifica o tipo de movimento que criamos em relação com ela;
LUZ. As fontes de luz na sala, as sombras que fazemos em relação a estas fontes, etc;
COR. Criando movimento a partir das cores no espaço, como uma cadeira vermelha entre inúmeras outras pretas afetaria a nossa coreografia em relação a ela;
SOM. Som criado pela arquitetura e a partir dela, o som dos pés no chão, o ranger de uma porta, etc.
No trabalho com ARQUITETURA nós criamos metáforas espaciais, dando forma a sentimentos como “eu estou contra a parede”, “preso entre as rachaduras”, “preso”, “perdido no espaço”, “no limiar”, “alto como uma pipa”, etc
BOGART, Anne; LANDAU, Tina. The Viewpoints Book – A Pratical Guide to Viewpoints and Composition. Tradução de Diogo Liberano. New York: Theatre Communications Group, 2005, p. 8-12.
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Encontro #4
Terça-feira, 17 de dezembro de 2013
De 18h às 22h - Apto da Marina
Caroline Helena, Diogo Liberano, Flávia Naves, Gunnar Borges, Keli Freitas, Marina Vianna, Natássia Vello, Taís Feijó e Tigre
Alexandre
Meu desejo de permanecer em fluxo
Virgília
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Manuela
7. espanto e medo: junho, 2013. Manifestação na Av presidente Vargas. Multidões, explosões: por que levei meu filho???
6. 2002: escola municipal república do líbano, na fronteira entre vigário geral e parada de lucas. o dia seguinte à invasão; a professora afastada: vai encarar?
5. 2001: E.M.França nas proximidades do morro do urubu, zona norte do rio. Tiroteio. Vi as luzes, vi a guerra.
4. 1978: eleições para deputados. Estava numa passeata panfletando com a familia. Encostei num poste levei um choque. Chovia.
3. 1976: todo mundo tinha um outro nome.
2. 1975: a polícia vigia e quebra o muro da casa onde moramos em São Paulo.
1. 1974: Vou dormir na casa da Tia Claudia, professora da Escola Municipal Marechal Hermes onde faço o jardim de infãncia. Ligaram pra escola avisando que era melhor eu não ir para casa.
sábado, 14 de dezembro de 2013
descrição de concreto armado ii
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
Encontro #3
De 18h às 22h - Apto da Marina
Andrêas Gatto, Caroline Helena, Diogo Liberano, Flávia Naves, Gunnar Borges, Keli Freitas, Marina Vianna, Natássia Vello, Taís Feijó e Teo Pasquini
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Encontro #2
Domingo, 08 de dezembro de 2013
De 11h às 15h - Sede Inominável
Adassa Martins, Andrêas Gatto, Caroline Helena, Diogo Liberano, Flávia Naves, Gunnar Borges, Marina Vianna, Natássia Vello, Taís Feijó e Teo Pasquini
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
especulando estruturas
sem linearidade
(tal qual VIDAS SECAS de graciliano ramos)
em contagem regressiva
(tal qual nossas AÇÕES PERFORMÁTICAS)
ordem épica
(des_montando a cronologia)
(a impressão do passado)
(a metaficção)
(o telefone)
(alegoria)
(manipulação temporal)
(surpresa)
(fluxo de consciência)
(skaz adolescente)
---
só eu entendo este esqueleto (ou não).
o importante é que cada um deles é um encontro
no qual todos se revelam de novo
e novamente
tal qual VIDAS SECAS
quero dizer
cada encontro é uma aula
ministrada por um aluno
(pode-se apagar a formalidade aluno e professor?)
arena
tipologia espacial: arena
perspectiva em 360º
para não caber nos olhos
pode-se apagar a formalidade
em roda
a professora
misturada aos alunos
---
o meu quadro
vem em primeiro
porque não estarei em cena
para vivê-lo
(isso não justifica)
mas o que este primeiro quadro abre
é justamente a explosão
para o qual todos os outros quadros
parecem se dirigir a.
---
contra a interpretação, susan sontag
causa-efeito
não
bom-ruim
não
belo-feio
não
sim-não
não
assim
não se sabe o destino destes personagens
porque só há o presente
e tudo é passível de ser agora
quem então faz a história?
---
uma aula sobre história.
sobre o conceito de história.
sobre novela
clip
pós-modernismos
e afins
nunca fomos modernos
---
A realidade enquanto ação dramática
Pela primeira vez, em cinco anos de trabalho voltado ao Teatro Inominável, eu me vejo desde o início - desde a primeira intuição (intuições de guerra) - mais colado com a vida em sociedade do que com algum simulacro seu, do que com alguma mera fantasia, ficção ou invenção. Não escrevo a partir de pressuposto de qualidade, valor ou coisa assim. Mas neste espetáculo o tema central que se espreita escorre vida afora, pelas ruas, jornais e por entre nossos passos e discursos. Como criar aquilo que me dá base e confere o tom dos meus dias? Como falar de algum discurso se o próprio discurso já se prendeu ao meu peito e a minha língua?
A sensação é única: desconforto. Puro e retinto, como noite sem estrela. Estamos querendo criar aquilo que mora antes de nós, que mora já no mundo. Então estamos falando de criação ou revolução? Os ânimos se exaltam e o dessabor ante ao mundo é capaz de minar também o desejo criativo. Percebem? Há uma sobreposição de desejos que se costuram e se repelem: a criação quer mudar o mundo (e o artista quer mudá-lo também). Dupla intenção. Excesso de literalidade (aquilo que fazemos é o que queremos fazer). Isso deveria ser bom, mas cega os olhos e fere a sensibilidade, porque o mundo anda doente e mexer nele nos evoca estado constante de febre.
Para falar do Rio de Janeiro, em ano de Copa do Mundo, eu preciso olhar de qual ângulo? Mas, se de onde eu olho eu me vejo também olhando, que distância pode me salvar da confusão que é se ver tanto artista quanto cidadão? Estas palavras me confundem e, ao mesmo tempo, são o sintoma nítido e nebuloso da minha confusão. Vamos tentar por outro começo.
O assunto que estamos falando não é o amor impossível entre Nina e Konstantin, tal qual Tchékhov especula em sua obra A gaivota (ele especula isso?). Não estamos falando do príncipe Hamlet e de sua Dinamarca envilecida. Nada disso. O nosso assunto é onde a gente vive, as nossas indagações antes de serem jogadas em sala de ensaio, já se estimularam pelo trajeto casa-nossa-até-sala-de-ensaio. Há um único lugar no qual se mistura vida e criação. Por isso talvez falemos tanto em performance, no já clichê (posto seja verdade concentrada) do aqui-e-agora. Percebam, o aqui e o agora são também o aqui e agora quando estivermos nos apresentando (ou melhor, quando estivermos sendo esta peça). Não há sequer diferença prevista entre hoje e o amanhã: estaremos sempre à prova, em cena ou fora, porque tudo é sobre o mundo, tanto a criação, quanto nossa existência. Há um único tempo: este agora no qual eu estou falando sobre a rua e criando suas dinâmicas noutro rumo, possivelmente imprevisto à ordem do dia.
Volto então as intuições minhas enquanto artista aqui neste Brasil de hoje. Faz muitos anos tenho me apegado mais e mais na força imensa que é a ficção. Se quero falar de mundo, falo então daqueles que - presos na minha história inventada - vivem o mundo (do qual quero falar). Tudo indireto, mas para chegar mais fundo e longe. Em uma de nossas peças, Como cavalgar um dragão, eu tentei escrever uma dramaturgia que pudesse oferecer a minha vida uma solução que eu não pude ter. Então a dramaturgia veio como invenção de um mundo no qual eu aprendesse junto - e com meus amigos - a sobreviver ao suicídio de alguém comum a todos nós. Em ficção, eu vivi uma parcela da minha vida que sequer aconteceu. Mesmo assim, aconteceu. E mais: repetidas vezes. E muito mais: sob muitos olhares que não somente o meu. Virou mundo e doação.
Fiquemos então na ficção. Nesta força imensa que é se especular enquanto outro possível. Tem uma coisa que só a criação artística pode fazer por nós: nos deixar frente a frente com a morte. Recriar, de forma deliberada e efetiva, outro tipo de encontro. Outro tipos de relação. Vida(s). Outros possíveis, tanto como impossíveis. Não há limite previsto. O impossível já está dado e tem hoje por nome realidade. Pois então vamos nos proteger no cobertor da ficção para que possamos dar conta desta vidinha amarrada a tenebrosos dias.
Eu queria e ainda quero muito contar a história específica dessa professora universitária e desses seis alunos. Mas isso não é tudo, porque é geral demais. Então, começo a pensar no que ela está fazendo agora, nesta noite de quarta-feira, meio quente, meio no meio do Rio de Janeiro, na janela, em casa, tomando uma coca-cola e fumando um cigarro. Quero pensar num dos alunos preso dentro de um ônibus engarrafado (como eu estive hoje durante mais de duas horas). Quero pensar no outro amando em desmedida e tentando se manter acordado sobre o texto que precisa ser lido até quinta (diferente de mim). É nessas minúcias que o homem enquanto ser se anuncia e desvela. Não quero falar do homem, quero falar dele e dela. Das unhas carcomidas e dos sonhos interrompidos (quais sonhos?). Dos pesadelos, medos concretos e abruptos. Quero falar da música que rodeia as orelhas e faz do mundo lugar mais ameno do que aparenta.
A realidade virou nossa ação dramática e, como tal, já sabemos, precisa ser reconstruída. Queria convidar vocês a entrar na sala de ensaio sem querer dar conta do mundo, mas apenas reféns da diferença que é o sumuadubo do nosso encontro. O mundo muda quando estamos reunidos, portanto, não vamos deixar o mundo estabelecido esmorecer a nossa potência.
Creio então que a nossa ação é dramática desde que estejamos juntos.
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Ao som de HAIM - Let Me Go (repetidas vezes):
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Encontro #1
Terça-Feira, 03 de dezembro de 2013
De 18h às 22h - Apartamento da Keli
Adassa Martins, Andrêas Gatto, Caroline Helena, Diogo Liberano, Flávia Naves, Gunnar Borges, Keli Freitas, Marina Vianna, Natássia Vello e Taís Feijó.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
estudantes protestam no egito ---
mais fotos em http://www.flickr.com/photos/mosaaberising/sets/72157638251657445/
crédito das fotos para