espaço de preservação de um cotidiano lúdico e solidário
no dia 15 de dezembro de 2013,
entre 10:00 e 12:00 horas, acontecerá em volta da estátua do carlos drummond de
andrade; a saber: avenida atlântica na altura do posto 6 em copacabana/rio de
janeiro; a solenidade de fundação do espaço de preservação de um cotidiano lúdico
e solidário.
o acontecimento é fruto do encontro entre o projeto de mestrado “ da rua para o palco: percursos e metodologia
de uma invenção cênica” ( estudos contemporâneos da arte/ uff) e do
programa de performances concreto armado.
o evento de fundação do espaço de preservação de um cotidiano lúdico e
solidário será aberto ao público transeunte, acontecerá sob sol (ou chuva) e
será composto por uma série de ações simultâneas no território que circunda a
estátua do nosso muito caro poeta drummond.
a partir deste dia, no qual também realizaremos o solene momento de corte da
faixa de inauguração, o micro território que se apreende do recorte feito pelas
ruas julio de castilhos, av. rainha elizabeth, av. nossa senhora de copacabana
e av. atlântica + a faixa de calçadão, areia e mar relativa a estas linhas,
será compreendido como espaço propulsor de um cotidiano vivo, onde a utopia
pode fazer morada e os sentidos poderão buscar viver de acordo com as ações.
mas viveremos
já
não há mãos dadas no mundo.
elas
agora viajarão sozinhas.
sem o
fogo dos velhos contatos,
que ardia
por dentro e dava coragem.
desfeito
o abraço que me permitia,
homem da
roça, percorrer a estepe,
sentir o
negro, dormir a teu lado,
irmão
chinês, mexicano ou báltico.
já não
olharei sobre o oceano
para
decifrar no céu noturno
uma
estrela vermelha, pura e trágica,
e seus
raios de glória e esperança.
já não
distinguirei, na voz do vento
(trabalhadores,
uni-vos...) a mensagem
que
ensinava a esperar, a combater,
a calar,
desprezar e ter amor.
há mais
de vinte anos caminhávamos
sem nos
vermos, de longe, disfarçados,
mas a um
grito, no escuro, respondia
outro
grito, outro homem, outra certeza.
muitas
vezes julgamos ver a aurora
e sua
rosa de fogo à nossa frente.
era
apenas, na noite, uma fogueira.
voltava a
noite, mais noite, mais completa.
e que
dificuldade de falar!
nem
palavras nem códigos: apenas
montanhas
e montanhas e montanhas
oceanos e
oceanos e oceanos.
mas um
livro, por baixo do colchão
era
súbito um beijo, uma carícia,
uma paz
sobre o corpo se alastrando,
e teu
retrato, amigo, consolava.
pois às
vezes nem isso. nada tínhamos
a não ser
estas chagas pelas pernas,
este
frio, esta ilha, este presídio,
este
insulto, este cuspo, esta confiança.
no mar
estava escrita uma cidade,
no campo
ela crescia, na lagoa,
no pátio
negro, em tudo onde pisasse
alguém,
se desenhava tua imagem,
teu
brilho, tuas pontas, teu império
e teu
sangue e teu bafo e tua pálpebra,
estrela:
cada um te possuía.
era
inútil queimar-te, cintilavas.
hoje
quedamos sós. em toda parte,
somos
muitos e sós. eu, como os outros.
já não
sei se vossos nomes nem vos olho
na boca,
onde a palavra se calou.
voltamos
a viver na solidão,
temos de
agir na linha do gasômetro,
do bar,
da nossa rua: prisioneiros
de uma
cidade estreita e sem ventanas.
mas
viveremos. a dor foi esquecida
nos
combates de rua, entre destroços.
toda
melancolia dissipou-se
em sol,
em sangue, em vozes de protesto.
já não
cultivamos amargura
nem
sabemos sofrer. já dominamos
essa
matéria escura, já nos vemos
em plena
força de homens libertados.
pouco
importa os dedos se desliguem
e não se
escrevam cartas nem se taçam
sinais da
praia ao rubro couraçado.
ele
chegará, ele viaja o mundo.
e ganhará
enfim todos os portos,
avião sem
bombas entre natal e china,
petróleo,
flores, crianças estudando,
beijo de
moça, trigo e sol nascendo.
ele
caminhará nas avenidas,
entrará
nas casas, abolirá os mortos.
ele viaja
sempre, esse navio,
essa
rosa, esse canto, essa palavra.
(carlos
drummond de andrade)
caroline helena