MANY[festa]AÇÃO
(do movimento pessoal ao desdobramento coletivo)
“e quando / a noite baixa / sublime e
irrefletida / não sei mais / prorrogar / a força que me aterra”
para explodir-se o maracanã, não é
necessário o esquema todo de dinamites.
para gritar um nome na rua, não é
preciso megafone.
para que a fina camada da reificação
seja rompida, não é necessário que se tenha uma broca.
o espeto está bem aqui. as bocas ao
redor. a pólvora é a primeira camada após a grama.
o conceito desta performance iniciou-se
com a ideia de reificação. no dia do meu aniversário, o balão de festa é aquele
que separa uma parcela de ar do todo que é igual, através de uma sensível película.
o ar que o preenche só difere de todo o resto que nos circunda por um único
motivo: ele é produto de uma transformação natural, pois sua matéria original é
posta para dentro (involuntariamente e/ou prazerosamente) através de duas
janelas externas para, depois de uma longa e vital trajetória interna, deixar
no corpo o que é de sua natureza e oferecer sua resposta, ressignificada e única,
a um novo espaço. este, por sua vez, ao entrar em contato com a matéria
transformada pelo assoprador, se vê obrigado a transformar-se também. sai do
murcho e concentrado para ganhar o amplo, o heterogêneo, corpo, nó, fio.
o balão é vivo, agora. mas sua natureza
de plástico, por não conseguir entender seu lugar, sua origem, seu propósito,
por ignorância, por equívoco, por ambição, por não mais identificar sua fonte
de sopro, se vê num lugar exclusivo, diferente, privilegiado pela sombra da
pele, pelo calor do plástico, pela nova imagem preenchida. ele começa a se usar
disso. a se fazer autônomo. então, pode-se fazer virar uma bolha, que é muito
diferente de um balão.
uma bolha é feita pelo jato rápido de
um líquido num recipiente. o atrito forte do corpo em si mesmo gera espaços de
respiração. para tamanha velocidade forçada, bruta, violenta, do líquido sobre
o líquido, a natureza, sozinha, cria bolhas por conta dessa violência, dessa
falta de respeito que foi forçada ao líquido ter sobre ele mesmo. as bolhas
formam um coletivo que paira por cima do líquido, ainda borbulhando numa maré
confusa, descuidada, sem foco e, ao mesmo tempo, algemada pelas bordas do
recipiente duro pra onde foi direcionado o seu destino. entretanto, quando a
maré se acalma, se estabiliza; já fica sem movimento e sem sugerir
desdobramento, as bolhas se vão.
o efeito bolha faz com que os que
assopram se confundam. eles perdem seu oxigênio transformador porque os balões
que presenteiam com seu ar especialmente pessoal não são mais balões. essas
pessoas, agora, acham que o que estão assoprando é apenas lixo que não lhes
serve mais.
proponho que, no dia dois de agosto de
dois mil e treze, possamos assoprar de novo. reviver o momento e o real
significado do assopro. assim, depois de alguns necessários estouros,
entendermos o ponto certo da resposta a ser dada ao balão. pode ser preciso,
por agora, um barbante. pra depois, caso o balão nos devolva o oxigênio necessário,
não será mais.
programação
11h45 – chegada da aniversariante e da
equipe de organização
12h00 – início da festa
12h10 – entrega dos dentes de vampiro e
chapeuzinhos aos presentes
12h20 – dança das cadeiras (com bambolê)
12h40 – estouro do super-balão lá vai
bala
12h50 – hora do parabéns: entrega dos
estalinhos e estouro da bomba de papeizinhos coloridos
13h00 – entrega dos presentes: estouro
coletivo dos balões da reificação
13h10/13h20 – desprodução e limpeza do
local.
data: 2 de agosto de 2013
horário: 12h00
local: acesso principal ao estádio mário
filho (maracanã) – praça do bellini, avenida maracanã.
adassa martins