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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

concreto_armado - CORROSÃO DA ARMADURA #2

corrosão #2
quarta-feira, 10 de setembro e 2014
de 17h às 22h na sede inominável
presentes: diogo, dani, helena, laura e elsa

foi um encontro excelente. a comprovação de que a persistência, em tempos tão urgentes, é um gesto revolucionário.

ao término do primeiro encontro (no qual só eu estive presente), a sensação que tinha ficado era de que nada realmente importante havia sido conquistado. sobrou a certeza de que era preciso continuar, persistir um pouco mais.

e que diferença faz a presença das pessoas neste momento de concreto armado. nossa peca precisa de vida. e a presença de cada um se converte num prisma que multiplica os pequenos feixes luminosos que acabam, com algum sacrifício, por surgir.

o encontro começou comigo e com a dani, tendo uma boa conversa sobre produção. em resumo: vamos afinar a produção para que seja possível construir um projeto. a produção para tornar possível. a produção com os pés no chão. sem contar com o que não tem. enfim, batemos as dívidas e tramamos maneiras (bem possíveis) de solucionar nossos débitos.

temos uma data: sete de dezembro de 2014, única apresentação, em florianópolis. lá começaremos um recomeço que já começou. em breve começaremos a ver as questões de logística (já iniciadas no e-mail que enviei sobre as datas das apresentações).

helena chegou, informando da sua ausência por alguns meses (ela vai a trabalho para natal). levantou algumas possibilidades para se fazer presente (disse até ter comprado uma webcam). pensou em antonisia viajando o mundo, gravando vídeos e enviando fotos. ela disse, num dado momento: eu tenho antonisia como estrutura a ser restaurada. isso me pareceu muito bacana, não pela alusão ao restauro (arquitetura), mas para pensar o que seria o nosso concreto após o ponto no qual chegamos.

e então o encontro vai abrindo caminhos. helena me propondo uma presença por meio de vídeos, fotos, skype... e eu me controlando para não odiar toda essa tecnologia (será que ela cabe no nosso orçamento? será que combina com teatro precário?). eu me controlando para não ser predeterminista. ora, por que não? por que não se desfazer – e corroer – também as minhas certezas? concreto sempre me convidou ao desconhecido e eu nunca me permiti – inteiramente – naufragar na escuridão. fiquei pobre riscando fósforos.

pois bem. a coisa do vídeo, da foto, eu passei a dizer que se tratava de janela. antonisia abrindo janelas. janelas dentro do espaço teatral (espaço para mundos hipotéticos). pensar o vídeo no espaço vazio do palco me fez chegar a um primeiro lugar importante nessa retomada:  é preciso chamar a cidade para dentro do palco.

a cidade, a nossa cidade, foi sugerida. evidenciada em palavras. citada. mas não lhe demos corpo. contamos apenas com as imagens do inconsciente coletivo ali reunido. por que não atravessar a cena com a rua? que seja com seu pedaço? com seu cheiro? com alguma ruína sua?

foi importante perceber também, a partir da proposição da helena, que o que importa não é o nome, não é o tema, mas algum mecanismo que se traduz, em cena, como certa potência de vida, certa vitalidade, como um dado procedimento artístico que age, o vídeo pode nos servir para chafurdar a cena de mundo, de rua, de real.

então eu lembrei do texto só que morre pode dizer, que havia escrito no início de janeiro de 2014 e postado no blog. eu li o texto para as meninas. e é curioso: ele parece a coisa mais sincera de todas. a coisa mais sincera sobre esse jogo que inventamos: de por meio do teatro nos fazermos de mortos para falar da vida massacrada.

isso me fez pensar que devo estar em cena, não para estar em cena, mas porque eis o sumo da performance: o corpo do performer é o seu suporte, é aquilo que se diz, é o meio pelo qual se torna possível sinceramente um posicionar-se. se eu preciso dizer o que digo, a dramaturgia do espetáculo precisa desistir de ser texto prévio e virar costura de posicionamentos.

relembrei também o comentario, na época de nossa temporada de estreia, que o professor denilson lopes escreveu sobre concreto: ele dizia que a peça se sustentava numa imagem forte: a do presente sendo narrado por uma narradora póstuma. e que, no final das contas, se tudo já aconteceu, o presente acaba por virar uma contabilidade da fragilidade e das ruínas.

a narradora póstuma, voltando a’o narrador do benjamin, é da morte que ela tira a sanção para narrar.

assim, fomos percebendo: o que é concreto armado?

hoje, concreto armado é uma história póstuma. que acabou, que passou. e é preciso saber deixar passar. concreto é uma história (feita de duas linhas sobrepostas):

linha superior: a história de uma turma de alunos e uma professora que, durante a copa do mundo de 2014, investigam a arquitetura do estádio maracanã, no rio e janeiro.

linha inferior: a história de uma turma de artistas que, durante a copa do mundo de 2014, investigam a criação de um espetáculo teatral, no rio de janeiro.

o saldo final das duas linhas é o mesmo: suicídio coletivo. tanto os personagens (alunos e professora) como os atores (criadores da peça) morreram ao término de concreto armado.

o que restou no fim, depois de tudo já terminado, foram ruínas. algumas dívidas, papeís, cenário, figurino, inúmeros desentendimentos interpessoais, frustrações, algum desejo querendo ressurgir das cinzas, depressão, estresse, morte de propósitos na vida, enfim, muita contradição, vida pura, crua. é isso.

como fazer concreto armado se concreto armado foi sempre uma obra que visou narrar uma história? a única história que queríamos contar era uma história sobre a vida humana. e nos faltou justamente a vida. mas há uma ironia tenaz e reveladora: a nossa ficção virou (sem excesso de literalidade), a nossa ficção virou a nossa vida (inconscientemente).

o processo foi nos guiando não rumo às conquistas daquilo que se desejava no início. o processo foi nos fazendo viver, sem perceber, a tortuosidade do caminho recém escrito em ficção. vivemos muitas mortes, perdemos muito, sofremos um bocado e a sensação é a mesma da realidade pós-copa: lutou-se, morreu-se, matou-se, mas a copa aconteceu. teve copa. o que não teve foi um projeto artístico que conseguisse expor, trazer à luz, o impraticável da vida prática. o absurdo a que chegou o ser humano.

teve copa. o que não teve foi peça de teatro, obra.

fazer concreto agora, refazê-lo, é continuar sua tarefa impossível e não tentar dar jeito ao que já foi tentado. é tentar de novo, tentar pior. e veja: fazer concreto agora é sobreviver a essa lógica escrota do mundo: já que perdemos, já que recebemos a crítica da revista veja e não fomos indicados aos prêmios, agora sim temos o caminho desobstruído para simplesmente existir, fora do circuito tititi, fora do mexerico.

ambas linhas (real e ficção) nos levaram à destruição de grandes elefantes brancos (a peça de teatro no mercado da produção cultural) e o maracanã. é tudo reificação ainda.

nossa peça foi coisificada (reificada) pelo nosso contexto de mundo. o sucesso, a dramaturgia, as expectativas, o festival, o patrocínio, aquela coisa toda... as pessoas que amam concreto, o fazem porque ele se dispôs a tudo aquilo que se dispõe. ele deu nome aos bois e se dispôs a desarranjar o rebanho do senso coletivo; porém, nós, artistas, queremos um pouco mais. queremos extensão dos nossos arrepios diretamente à cena.

depois de muito conversar, faço uma proposta a ser entregue no dia 15 de outubro de 2014: dia dos professores. será a partir do encontro destas propostas que faremos uma composição da nossa trama dramatúrgica.

quando foi que você abriu os olhos, no processo de concreto armado, de uma forma que você não conseguiu mais fechar?

essa pergunta precisa ser perguntada sete vezes. e, naturalmente, é preciso forjar sete respostas. as sete respostas precisam ser colocadas em ordem cronológica. cada resposta deverá ser realizada com alguma comprovação material: pode-se usar postagem do blog, texto de referência, algum e-mail, objeto, uma música do processo, alguma coisa que possa ser colocada entre as mãos e que possa ser passada adiante.

a partir disso, vamos cruzar as linhas (as respostas) de cada um e perceber: eis o nosso caminho de abertura de consciência, se lembram? a peça queria muito falar disso. pois vamos falar sinceramente disso. vamos detectar quais foram os momentos em que nos percebemos, sinceramente, massacrados pelo percurso, mas ainda assim, com saúde nos olhos para ouvir a nossa ignorância! vamos juntar as linhas de consciência, as respostas são o nosso real percurso de abertura e vamos fazer sustenido: crossroad, cruzamento, multiplicação, ###############

vamos juntar nosso encontro e fazer dele alguma gaze ao mundo #