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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

\\ encontro dois


domingo (27 de janeiro)
na sede do inominável
de 10h às 13h30
com
adassa martins
andrêas gatto
carolina calcavecchia
caroline helena
diogo liberano
flávia naves
gunnar borges
natássia vello
taís feijó


estruturamos este segundo encontro da seguinte forma: como no encontro anterior, cada um tinha levado um livro para casa, neste, cada um faria uma breve apresentação daquilo que foi lido, das questões que se abriram a partir do encontro com a tal referência escolhida previamente. tentarei, a seguir, fazer um breve resumo das questões apresentadas por cada um, numa mescla com comentários meus a partir do que ouvi.

o enigma do capital, de david harvey --- por gunnar borges
espanto frente aos termos bilhões e trilhões (muito dinheiro). gunnar parte de uma crise acontecida na década de 1970, na qual grandes empresas em falência acabaram recebendo investimento do governo (investimento público) para que não falissem, visto que foram consideradas empresas grandes demais para falir. espanto.
chegamos ao neoliberalismo - que visa certo escoamento da produção excedente. me chamou atenção observar a fala de gunnar pautada numa crise ocorrida há décadas e que, no entanto, parecia alimentar a compreensão deste presente, agora. o neoliberalismo prevê a mínima participação do estado (já excessiva durante o período de crise citado anteriormente). se o estado participa menos, logo, as empresas estatais por exemplo acabam sendo privatizadas.
natássia acrescentou inúmeras características para desvendarmos um pouco mais do neoliberalismo. falou em termos como globalização, multinacionais, eficiência...
aproveito para compartilhar outro ponto de vista. fonte:
Neoliberalismo é a resposta à crise do capitalismo decorrente da expansão da intervenção do Estado, antagônica à forma mercadoria, ainda que necessária para sustentá-la. Após alguns anos de diagnóstico e de tateações, o neoliberalismo toma forma no final da década de 1970 como 'Reaganismo' e 'Thatcherismo', e consiste essencialmente em uma tentativa de recompor a primazia, e recuperar o âmbito, da produção de mercadorias. Renegando as formas social-democratas que acompanham o estágio intensivo, nega a crise estrutural e histórica do capitalismo e se volta às origens desse, do tempo do liberalismo - daí o nome de neo-liberalismo.
As políticas neoliberais perseguidas ao final dos anos 70 e no começo dos 80 por parte dos governos nacionais dos países centrais constituem precisamente uma tentativa (crescentemente desesperada) de 'remercadorização’ de suas economias.
O Estado capitalista tem que tentar isso, uma vez que assegurar as condições da produção de mercadorias é sua própria razão de ser, mesmo se, assim fazendo, Ihe escapa inteiramente o fato de que a negação da negação da forma-mercadoria não pode restabelecer essa última: privatização não é o mesmo que mercadorização. DEÁK, Csaba (1985) Rent theory and the prices of urban land/ spatial organization of a capitalist economy esp.Cap 8, nota 35, reproduzida em Deák (1989)
O arsenal do neoliberalismo inclui o farto uso de neologismos que procuram destruir a perspectiva histórica dando novos nomes a velhos processos ou conferir respeito a pseudoconceitos Surgem, assim, o pós-moderno, o desenvolvimento sustentável, os movimentos sociais urbanos, a exclusão social, os atores(sociais), as ong-s, a globalização, o planejamento estratégico..., que procuram encobrir, ao invés de revelar, a natureza do capitalismo contemporâneo.
revistas le monde diplomatique (nov/2011) e caros amigos (abril/2012) --- por natássia vello
para além da sensação de ira, tristeza, para além da sensação de ser ultrajada, natássia apontou que as revistas - que falavam sobretudo das estratégias utilizadas pelo governo para viabilizar a chegada da copa do mundo em nosso país - lhe chamaram atenção não para a questão da remoção (gravíssima) mas para os reflexos neoliberais. ou seja: ela se pergunta quais os reflexos neoliberais que se evidenciam com todas essas estratégias que estão sendo usadas?
as cidades estão virando empresas e competindo entre si. há sempre uma enorme capacidade de flexibilização das leis, de forma que as regras podem então sempre ser burladas, visto essa tal flexibilidade. natássia marca o nome de carlos vainer, da ufrj, por seu estudo sobre a cidade de exceção.
helena puxou uma observação sobre aquilo que se encontra enterrado em nossa cidade, sobre a história que foi enterrada e sobre o (irônico?!) movimento de escavar a cidade, neste momento, por conta de obras para a copa/olimpíadas e a consequente descoberta daquilo que havia sido escondido, posto em esquecimento.
um bom mote: como virar turista da própria cidade?
segue abaixo um trecho do artigo Cidade de Exceção: reflexões a partir do Rio de Janeiro (clique para download) de Carlos Vainer:
VI. Á guisa de conclusão: a cidade de exceção é o lugar da democracia direta do capitalCertamente, a categoria de estado ou regime de exceção não se aplica senão de modo parcial à cidade dos mega-eventos. As formas institucionais de democracia representativa burguesa permanecem, formalmente, operantes. O governo eleito governa, o legislativo municipal legisla... Mas a forma como governam e legislam produz e reproduz situações e práticas de exceção, em que poderes são transferidos a grupos de interesse empresarial.
Aqui, a autonomia do estado transforma e a centraliza de maneira extrema o poder. A cidade de exceção transforma o poder em instrumento para colocar a cidade, de maneira direta e sem mediações na esfera da política, a serviço do interesse privado de diferentes grupos de interesses. Não se  trata mais de uma forma de governo em que o “interesse geral” cederia lugar a formas negociais, como sugeria Ascher. Nem se trata, apenas, de governar em benefício de determinados grupos de interesses, grupos dominantes. Trata-se de uma forma nova, em que as relações entre interesses privados e estado se reconfiguram completamente e entronizam novas modalidades de exercício hegemônico. Neste contexto, torna-se regra a invisibilização dos processos decisórios, em razão mesmo da desqualificação da política e da desconstituição de fato das formas “normais” de representação de interesses. Não se sabe onde, como, quem e quando se tomam as decisões – certamente não nas instâncias formais em que elas deveriam ocorrer nos marcos republicanos. 
Concretiza-se, assim, o projeto de conferir flexibilidade e agilidade aos processos decisórios, liberando-os definitivamente  dos “controles políticos e burocráticos”. As chamadas parcerias público-privadas e as operações urbanas constituem um exemplo perfeito desta “expansão de redes de poder e correias de transmissão paralelas que se cruzam e vinculam diferentes ramos e centros”, ao largo dos partidos e do governo formal, a que se refere Jessop. 
Nestas redes de poder e correias de transmissão paralelas que constituem o terreno propício às parcerias público-privadas,  a cidade de exceção se conforma também como democracia direta do capital. 
crepúsculo dos ídolos, de friedrich nietzsche --- por taís feijó
taís trouxe seus comentários a partir do livro de nietzsche. porém, antes, compartilhou uma música do teatro mágico chamada "esse mundo não vale o mundo". da letra, destaco o primeiro trecho: É preciso ter pra ser ou não ser/ Eis a questão/ Ter direito ao corpo e ao proceder/ Sem inquisição/ A impostura cega, absurda e imunda/ A quem convém?/ Esta hetero-intolerância branca te faz refém.
a partir desta primeira referência, chegamos enfim ao nietzsche e discutimos sobre como seus conceitos são de compreensão difícil. eu, particularmente, acho fácil entender nietzsche mais pelo avesso do que pelo o que talvez ele esteja pregando. de qualquer forma, ousamos falar de conceitos como super homem, vontade poder, embriaguez (se é que podemos encarar tudo isso como conceitos).
arrisco citar um trecho de um artigo escrito por marilena chauí que dá uma impressão sobre o conceito de  super-homem por nietzsche que me parece a mais acertada:
Analisando o pensamento nietzschiano, percebemos o protótipo de um modelo de organização social, que só pode ser estabelecido em face desse rompimento com as tradições e o caminho é a revolução de Marx, a implantação do comunismo e a transformação dos meios de produção em uso social na sociedade, neste processo se elimina o que era tradicional e, gradativamente, se substitui pelos princípios do super-homem. Ressalvo que não o super-homem cínico de Zaratustra, mas um super-humano que é capaz de se apropriar da vida, dos meios para a vida e se elevar a tal ponto, que consiga preencher os vazios sem apelar, sem falsificar e sem vícios.

os irredutíveis, de daniel bensaid --- por adassa martins
adassa trouxe comentários sobre este livro, que tem como subtítulo a seguinte construção: teoremas da resistência para o tempo presente. foi interessante ouvir a sugestão de que a única forma de ser político é ter o seu olhar voltado para a produção social entre as pessoas. me soou algo como político é conceito e social é ação. algo que veremos com o conceito marxista práxis.
falou também sobre a noção de crise. e de como a crise causa uma perfuração na dominação. a partir deste momento, fiquei me perguntando qual crise devemos criar? é possível criar crises? pensando o nosso corpo, o corpo de um ator, me interessa observar como uma dada crise pode romper e desestabilizar a homeostase. sendo assim, como uma crise pode quebrar o hábito, enfraquecê-lo, problematizá-lo.
outro ponto importante foi uma foto que adassa trouxe. ela fotografou uma propaganda do banco do brasil que apresentava um esportista numa foto incrível e com a seguinte frase escrita: você não faz ideia do que ele é capaz. ou algo assim. alguém pichou a propagando e refez a mensagem: você não faz ideia do que nós somos capazes. ou algo assim. o que ficou marcado é que, a princípio, a propaganda falava conosco, transeuntes. e que, em seguida, ela passou a endereçar a nossa mensagem, de povo, para os donos da marca. é como se pichada, tivesse sua mensagem refeita e reenviada aos donos.
coloco abaixo duas ações que foram feitas em propagandas na alemanha:



nas duas propagandas, de uma mesma empresa, vemos aquele conhecido esquema da mulher vendida como  aquilo que ela não é realmente. a intervenção feita foi colar, somando ao banner, a caixa de ferramentas do programa photoshop. não sei se isso no brasil funcionaria porque não tenho certeza se a informação photoshop é muito disseminada para fora do universo do desgin e da propaganda. mas é incrível como marca e modifica a propaganda com apenas um detalhe.

primeiro como tragédia, depois como farsa, de slavoj zizek --- por flávia naves
flávia trouxe o seu parecer a partir deste livro do zizek. começou dizendo algo bastante pertinente (que mais uma vez me fez pensar em marx). ela disse que a verdade está naquilo que fazemos e não naquilo que dissemos sobre nós e sobre nossos atos. de alguma forma, é preciso fazer frente a nossa fácil capacidade de transformar em história aquilo que é ação, movimento, fagulhas de segundos.
ela leu um trecho que nos fez perceber como o distanciamento brechtiano - em alemão verfremdungseffekt - é ainda uma saída para não nos perdemos na identificação (e na catarse), para não nos perdermos na composição cheia de stanislavski. me fez pensar na via negativa de grotowski. me fez pensar de novo e mais uma vez em performance.
num dado momento, flávia falou no problema que é criar uma falsa humanidade, uma espécie de auto-piedade. e então foi uma loucura, porque ficamos muito tempo tentando entender o que era essa falsa humanidade que zizek apontava.
neste ponto, tentei explicitar aquilo que havia entendido (a partir de autores como roland barthes em a morte do autor e michel foucault em o que é um autor?):
creio eu que é importante não costurar o artista com a sua obra. a obra precisa e creio mesmo que seja justamente a ação do artista. voltando ao início da discussão trazida por flávia, pensamos que se a verdade está naquilo que fazemos e não naquilo que dissemos sobre nós, logo, a verdade está em nossa ação (criativa, no nosso caso) e não nas histórias pessoais que alimentam essas ações. não importa criar links na vida e na história pessoal para explicar gestos e ações. as ações e os gestos são como pontos finais. são fatos (duros, como pedras). quero dizer: eu não quero saber da vida de adolf hitler para entender suas ações. a princípio, eu entro em contato com elas. não preciso de histórico que me cause piedade e me faça olhar com outros olhos a realidade. a questão da falsa humanidade é essa: construímos lógicas para explicar o inexplicável. enquanto seres humanos, tal como somos, nos vemos sempre desesperados ao sentido, à costura e ao possível. mas, às vezes, não. será preciso sobrar junto às dúvidas, perdido em meio à escuridão. portanto, falsas humanidades servem para nos distanciar da dúvida, do escuro de nosso tempo (tal qual diz agamben). vamos preservar a nossa incompreensão frente ao mundo. não vamos querer vasculhar a vida para encontrar o porquê de uma ação. vamos olhar a ação enquanto eternidade. nela, existe o antes, o agora e sobretudo o depois.
por fim, a partir da leitura (e da nossa discussão de super herói), flávia relembrou um filme que amo faz tanto tempo. se chama unbreakable, estreou em 2000 e em português se chama corpo fechado, do diretor m. night shymalan. é um filme sobre super herói. o melhor deles, talvez.
lembramos também que slavoj zizek escreveu sobre a trilogia batman, de christopher nolan.

por fim, registro alguns nomes que foram falados: dos performers santiago sierra e tino segall; e de bansky (e sobre um filme sobre a obra dele).

próximos encontros: traremos estudos sobre ações que foram feitas em cidades e ações que podemos fazer. nos próximos dois encontros trabalharemos para fechar um cronograma de execução das ações (durante 2013) e também para estruturar uma a uma.

still ahead.
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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

\\ encontro um


domingo (20 de janeiro)
na sede do inominável
de 10h às 13h
com
adassa martins
andrêas gatto
caroline helena
diogo liberano
flávia naves
natássia vello
taís feijó


começamos o primeiro encontro nos perguntando sobre quem éramos. de alguma forma, este projeto parece nos colocar em dois lugares ao mesmo tempo: 1) somos um coletivo de artistas; e 2) somos uma potencial célula terrorista ou um grupo de guerrilha.

explico: estamos abordando um tema tão contemporâneo, tirado tão deste agora em que vivemos (anos 2012, 2013 e 2014), que o próprio tema se manifesta não enquanto tema, mas como acontecimento. logo, deduz-se a dificuldade: o tema não virou história, ele segue o dia-a-dia se movendo e modificando. ou seja: o nosso tema é mundo e clama por solução, por revelação e, sobretudo, clama por revolução.

e então nos perguntamos: é possível abordar tal assunto, tal situação, sem o risco de nos envolvermos realmente com a gravidade dela?

não é possível. ao mesmo tempo, precisamos nos descolar do presente momento para olhá-lo com olhar clínico e crítico. é preciso distanciar para evidenciar (ou, ao menos, compreender) as engrenagens que movem o presente. (talvez aqui possamos ler o artigo o que é o contemporâneo? de giorgio agamben - clique aqui para fazer o download). coloco a seguir uns trechos que escrevi certa vez, sobre o artigo do agamben:
Agamben sugere haver um teor anacrônico que assinala a experiência do ser contemporâneo. De acordo com ele, pertencer ao tempo é também não pertencê-lo. Ele afirma ser o poeta aquele que justamente impede o tempo de compor-se, aquele ser capaz de revelar as fissuras daquilo que o redor tenta remendar a todo custo. Ao poeta, parece, resta essa tarefa inexecutável de ver no próprio tempo (no qual mantém seu olhar fixo) algo além de suas luzes. Cabe ao poeta ser amigo da escuridão. 
Ora, por que haveria somente luz? Ser contemporâneo para o filósofo é não se deixar cegar pela luminosidade nem por seu excesso. Penso eu, seria algo como assistir a um filme no cinema, mas com óculos de sol. Ou então, algo como se permitir estar exposto na procissão de um enterro (nos quais óculos escuros escondem do homem a escuridão mais bela de sua vida: a própria morte).  
Tem a ver com estar fora de moda. Há uma parcela do ser contemporâneo que intenciona estar fora de moda. Porque estar dentro demais é se fazer cego e incapaz de se ver. Estar fora de moda seria como se permitir flertar com outros tempos presentes, mas todos num só tempo. Algo como ser capaz de somar, mais do que somente dividir.
encontro agora no meu caderno algumas expressões e palavras anotadas (talvez porque não saiba exatamente os seus significados): arte política, intervenção urbana, ações performáticas, performance, grupo terrorista, militância, estética engajada (ouvimos essas palavras durante o primeiro encontro).

lembro também de termos falado da performance e de eu ter marcado aquilo que me interessava nela: a performance me interessa como ferramenta para tornar vital aquilo que pode não ser; a performance nos serve no ponto em que nos dá presença (ao nos exigir presença). ela abre a disponibilidade atorial e o confronta com o risco (do corpo. do corpo com o meio. do meio. abre-nos ao risco do encontro consigo e com o outro).

falamos também sobre DENÚNCIA e  REVELAÇÃO. falamos sobre CRIATIVIDADE e NECESSIDADE. sobre CONSCIÊNCIA. ou seja: falamos e nos percebemos falando a partir de muitos pontos de vista. a diferença já se marca como ponto de partida. por mais que a brindemos em nossos discursos (e manifestos inomináveis), é sempre assustador se confrontar com o que difere da gente.

tocamos no assunto da malícia do projeto, em tentar se fazer sensível a certos públicos (qual é o nosso público alvo?). e finalizamos o encontro falando bastante sobre épico, sobre heroico, sobre um possível trabalho antropológico - de campo, de ir em busca - da diferença, dos moradores do rio de janeiro, de personagens capturados no dia-a-dia. falamos de caçar os super heróis (mas não resolvemos nada. tudo restou em aberto. como - talvez - tenha que ser neste momento).

saldo final (para mim) --- somar ficção com realidade. para que via ficção, a realidade se sinta convidada a se modificar.

destaco a seguir uma cena curta que escrevi em ocasião da oficina negociação invisível, realizada durante a segunda temporada de sinfonia sonho no teatro gláucio gill. o mote da oficina era investigar as relações estabelecidas entre os atores em cena de maneira invisível ao público. como ponto de partida, escrevi 10 cenas curtas a partir do universo de concreto armado. segue a décima cena:

dez

giz.

luz de giz.

som de giz.
ar sufocado de giz. 


t – não há nada mais sujo, mais injusto, mais escroto do que encher a barriga à custa da burrice do outro. as minhas mãos! nada mais doloroso do que ver a cegueira alheia e sentir pena de si próprio por ainda se achar lúcido. sujeira. nas minhas mãos! até agora eu não conhecia nada tão obscuro, maldoso, tão perdidamente escroto. nada tão tremendamente horrível, eu não conhecia nada tão sem palavras para dar conta dessa escuridão desse abismo desse monstro que nasce e cresce e só come e só vira mais monstro, mais rombo mais brusco mais risco quina sangue e abuso. mais usura. mais acne. mais suor e sono. mais tv e panetone. mais medo. mais nojo. as minhas mãos! eles sabem que eu sei! eles sabem que podem seguir se usando da burrice alheia. e da minha! e sabem que eu sei que a burrice só cresce. e que, no entanto, eu sou paga para diminuir isso que eles alimentam mais e mais a cada dia.

asfixia.

t – a burrice é a cama onde eles deitam os pés sujos todos os dias. quanto mais, melhor. quanto mais burro, melhor. melhor. quanto mais burro for seu povo, mais nobre será a sua falsa preocupação em cuidar do futuro. que não virá. que não veio. e, no entanto, nos tapeiam. fazendo de mim alguém contratada para atingir o impossível. querendo que eu crie em sala de aula seres capazes de lidar com o cinismo.

febre. e delírio.

t – e se eu fizer um exército? e se eu formar assassinos? ao invés de crianças? ao invés de alunos? serei presa ou serei justa? serei errada ou brilhante? eu sigo suja, sabendo da nojeira e ensinando estrelas. confiando na poesia quando vejo nas esquinas, as minhas crianças perdendo seus narizes e cabeças! eu tentando dar conta daquilo que já me disseram que não vai ser possível! como pode, meu deus?! como eu pude um dia ter me servido a isso? quando foi? que abri os olhos nessa envergadura que já não posso mais fechá-los? como pude ver meus sonhos – tão sinceros – virarem mentiras? as minhas mãos! tremem tentadas à truculência. eu quero premer. quero apertar e romper. quero, se possível, hoje, fazer pacto com o demônio para que ele me impulsione ao extermínio daqueles que querem me exterminar com doçura fingida.

escrevi tanta coisa e faltou o principal. elegemos o nosso mote, a nossa força motriz (ainda a ser descoberta). no mural do inominável, que fica em nossa sede (no meu quarto), tinha fixado um papel faz muito tempo: TRAGÉDIA DA REIFICAÇÃO. é isso. este espetáculo é sobre isso. queremos com ele justamente destruir a maquiagem que esconde a realidade tal qual ela se mostra (e agoniza).

não falamos da copa do mundo ainda. é isso mesmo. muita coisa. isso porque estamos estudando apenas para estruturarmos um número específico de ações que serão feitas no decorrer do ano. cada presente na reunião saiu dela com uma referência (dentre livros e revistas) para estudar até o próximo encontro.

é seguir.
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domingo, 13 de janeiro de 2013

"Copa no Brasil custa mais caro que as três últimas edições somadas"

O custo da Copa do Mundo no Brasil será maior do que a soma do total investido nas últimas três edições do evento, no Japão, Coreia, Alemanha e África do Sul. Além disso, se os orçamentos das obras dos estádios e de infraestrutura urbana e de transporte continuarem a ser reajustados para cima no ritmo atual, a Copa do Mundo do Brasil terminará custando mais do que todas as outras juntas.


A conclusão vem de um estudo da Consultoria Legislativa do Senado Federal. A análise compara as cifras investidas pelos países-sedes em todas as intervenções que levaram a rubrica de "obra da Copa" dada pelos comitês organizadores. Segundo o consultor do Senado Alexandre Guimarães, que ancorou seus cálculos em estudos feitos por institutos econômicos internacionais, as copas do mundo de Japão e Coreia (2002), Alemanha (2006) e África do Sul (2010) consumiram, juntas, US$ 30 bilhões (US$ 16 bilhões, US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões, respectivamente), enquanto todas as Copas da história juntas teriam consumido US$ 75 bilhões.  No Brasil, afirma Guimarães, os gastos atuais, segundo as autoridades de governo e empreiteras envolvidas nas obras somam US$ 40 bilhões.
Trata-se de uma previsão conservadora, baseada no que se espera consumir de recursos em obras que, em muitos casos, ainda nem começaram. Tais projetos costumam ser concluídos com gastos finais muito superiores aos previstos no início da empreitada. Nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro de 2007, por exemplo, o custo final foi dez vezes superior ao calculado no início das obras.
As obras para a Copa parecem estar seguindo o mesmo caminho. Os projetos de infraestrutura de transporte em Cuiabá (MT), por exemplo, estavam orçados pelo Ministério dos Esportes em R$ 488 milhões. Este seria o custo para construir apenas três corredores de ônibus. Recentemente, porém, a autoridade estadual matogrossense achou por bem alterar os planos aprovados pelo governo federal, construindo, ao invés dos corredores, uma linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), orçada inicialmente em R$ 1,1 bilhão, em uma cidade de 500 mil habitantes e trânsito pouco carregado. 
Já a reforma no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, que foi orçada inicialmente em R$ 700 milhões, já foi recalculada para R$ 956 milhões, e a obra só vai terminar em dezembro de 2012. Já a Arena Fonte Nova, em Salvador (BA), tinha um custo previsto no início da construção de R$ 591 milhões. Atualmente, com 18% da obra concluída, os cálculos estão em R$ 835 milhões. Trata-se de uma parceria público-privada (PPP), mas cerca de 75% do custo total será financiado por bancos de fomento estaduais e federais.
"O problema é que o governo brasileiro resolveu reorganizar o país todo às custas da Copa. Nossa malha aeroviária e de aeroportos carece de reformas e ampliações há anos. Agora, porém, tudo será feito às pressas e com prazo definido para estar pronto, o que naturalmente vai encarecer todas as obras", explica Guimarães. Com exceção da Copa do Japão e Coreia, "quando foram construídos 20 estádios e estruturas para abrigar duas copas, uma em cada país", o evento mais caro foi na África do Sul (US$ 8 bilhões), onde, além de praças esportivas, foram construídos trens rápidos, rodovias e aeroportos. "No Brasil, estamos fazendo a mesma coisa, que é a fórmula ideal para se gastar mais do que se deve em obras públicas que são necessárias", conclui o consultor.
Para o ministro dos Esportes, Orlando Silva, o estudo não merece crédito. "Este valor de US$ 40 bilhões é cabalístico, não há nenhum dado público que fale nessa quantia", afirmou. Além disso, para Silva, os investimentos em aeroportos e portos, bem como outros em infraestrutura, não deveriam ser contabilizados na conta da Copa: "A Copa do Mundo é um catalisador que antecipa investimentos que já teriam de acontecer. Quando a Copa passar, esses investimentos ficam. Portanto, é injusto que entre na conta da Copa".

"ONU critica Brasil por desapropriações para Copa e Olimpíada"

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Brasil faltou com transparência e pagou indenizações insuficientes pelas desapropriações para obras da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, possivelmente cometendo violações aos direitos humanos, disse uma relatora especial da ONU nesta terça-feira.

A relatora especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU Raquel Rolnik pediu que o país interrompa as desapropriações até que essas questões sejam resolvidas.

"Com a atual falta de diálogo, negociação e participação genuína no desenvolvimento e implementação de projetos da Copa do Mundo e da Olimpíada, as autoridades de todos os níveis devem interromper todas as desapropriação planejadas até que se possa garantir diálogo e negociações", disse.

Provável palco da final do Mundial e sede dos Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro aparece ao lado de São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Natal e Fortaleza como as cidades que realizaram desapropriações ilegais ligadas a projetos dos eventos esportivos, segundo o estudo.

A relatora independente, indicada para avaliar as condições de moradia como componente dos direitos humanos, disse ter recebido muitas queixas sobre falta de transparência, consultas, diálogo, negociação justa e participação das comunidades afetadas nos processos de desapropriação.

"Peço às autoridades federal, estadual e municipal envolvidas nos projetos da Copa do Mundo e da Olimpíada que se envolvam em um diálogo transparente com a sociedade brasileira, particularmente com os setores da população diretamente afetados", disse a relatora em comunicado.

Casos citados no estudo da ONU incluem um plano de retirar 2.600 famílias em Belo Horizonte e desapropriações já realizadas no Rio de Janeiro, que vai construir três vias expressas de ônibus (BRTs) que passarão por favelas que abrigam milhares de moradores que vivem em condições precárias.

Em São Paulo, milhares de família já foram despejadas com parte de um projeto de ampliação de uma avenida na zona sul, que ainda deve causar a retirada de mais milhares de pessoas, segundo a relatora.

INDENIZAÇÕES BAIXAS

Um dos problemas mais graves, segundo Rolnik, são os baixos valores das indenizações pagas, especialmente em um momento de alta nos valores de imóveis no país.

"Também estou preocupada com as indenizações muito limitadas que são oferecidas às comunidades afetadas, o que é ainda mais grave devido aos valores elevados dos imóveis nas localidades onde as obras estão acontecendo para esses eventos", disse.

A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse à Reuters em resposta ao relatório que muitas desapropriações aconteceram em áreas de risco, e convidou a relatora da ONU a visitar as comunidades atingidas.

"Nós não consideramos que há tentativas forçadas de retiradas de pessoas... muitas dessas áreas são áreas de risco, onde as pessoas estão em condição muito precária", afirmou em Brasília.

"Todas as mudanças vindas para favorecer obras em termos de empreendimentos para a Copa do Mundo vêm para favorecer essas famílias em moradias mais adequadas, o que é sinônimo de direitos humanos nestas comunidades", acrescentou.

O relatório da ONU foi divulgado um dia após a Anistia Internacional também ter alertado que as desapropriações relacionadas aos Jogos Olímpicos e ao Mundial podem desrespeitar os direitos humanos dos moradores de favelas do Rio.

Um possível entrave nas desapropriações pode resultar em mais atrasos nas obras em todo o país para os eventos esportivos. Reformas de aeroportos e estádios já estão atrasadas, despertando críticas recentes do presidente da Fifa, Joseph Blatter.

O caso mais emblemático é o de São Paulo - o estádio escolhido para receber as partidas do Mundial na maior cidade do país ainda nem saiu do papel a três anos do início da Copa.

(Por Pedro Fonseca, com reportagem adicional de Hugo Bachega em Brasília)


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