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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

\\ encontro um


domingo (20 de janeiro)
na sede do inominável
de 10h às 13h
com
adassa martins
andrêas gatto
caroline helena
diogo liberano
flávia naves
natássia vello
taís feijó


começamos o primeiro encontro nos perguntando sobre quem éramos. de alguma forma, este projeto parece nos colocar em dois lugares ao mesmo tempo: 1) somos um coletivo de artistas; e 2) somos uma potencial célula terrorista ou um grupo de guerrilha.

explico: estamos abordando um tema tão contemporâneo, tirado tão deste agora em que vivemos (anos 2012, 2013 e 2014), que o próprio tema se manifesta não enquanto tema, mas como acontecimento. logo, deduz-se a dificuldade: o tema não virou história, ele segue o dia-a-dia se movendo e modificando. ou seja: o nosso tema é mundo e clama por solução, por revelação e, sobretudo, clama por revolução.

e então nos perguntamos: é possível abordar tal assunto, tal situação, sem o risco de nos envolvermos realmente com a gravidade dela?

não é possível. ao mesmo tempo, precisamos nos descolar do presente momento para olhá-lo com olhar clínico e crítico. é preciso distanciar para evidenciar (ou, ao menos, compreender) as engrenagens que movem o presente. (talvez aqui possamos ler o artigo o que é o contemporâneo? de giorgio agamben - clique aqui para fazer o download). coloco a seguir uns trechos que escrevi certa vez, sobre o artigo do agamben:
Agamben sugere haver um teor anacrônico que assinala a experiência do ser contemporâneo. De acordo com ele, pertencer ao tempo é também não pertencê-lo. Ele afirma ser o poeta aquele que justamente impede o tempo de compor-se, aquele ser capaz de revelar as fissuras daquilo que o redor tenta remendar a todo custo. Ao poeta, parece, resta essa tarefa inexecutável de ver no próprio tempo (no qual mantém seu olhar fixo) algo além de suas luzes. Cabe ao poeta ser amigo da escuridão. 
Ora, por que haveria somente luz? Ser contemporâneo para o filósofo é não se deixar cegar pela luminosidade nem por seu excesso. Penso eu, seria algo como assistir a um filme no cinema, mas com óculos de sol. Ou então, algo como se permitir estar exposto na procissão de um enterro (nos quais óculos escuros escondem do homem a escuridão mais bela de sua vida: a própria morte).  
Tem a ver com estar fora de moda. Há uma parcela do ser contemporâneo que intenciona estar fora de moda. Porque estar dentro demais é se fazer cego e incapaz de se ver. Estar fora de moda seria como se permitir flertar com outros tempos presentes, mas todos num só tempo. Algo como ser capaz de somar, mais do que somente dividir.
encontro agora no meu caderno algumas expressões e palavras anotadas (talvez porque não saiba exatamente os seus significados): arte política, intervenção urbana, ações performáticas, performance, grupo terrorista, militância, estética engajada (ouvimos essas palavras durante o primeiro encontro).

lembro também de termos falado da performance e de eu ter marcado aquilo que me interessava nela: a performance me interessa como ferramenta para tornar vital aquilo que pode não ser; a performance nos serve no ponto em que nos dá presença (ao nos exigir presença). ela abre a disponibilidade atorial e o confronta com o risco (do corpo. do corpo com o meio. do meio. abre-nos ao risco do encontro consigo e com o outro).

falamos também sobre DENÚNCIA e  REVELAÇÃO. falamos sobre CRIATIVIDADE e NECESSIDADE. sobre CONSCIÊNCIA. ou seja: falamos e nos percebemos falando a partir de muitos pontos de vista. a diferença já se marca como ponto de partida. por mais que a brindemos em nossos discursos (e manifestos inomináveis), é sempre assustador se confrontar com o que difere da gente.

tocamos no assunto da malícia do projeto, em tentar se fazer sensível a certos públicos (qual é o nosso público alvo?). e finalizamos o encontro falando bastante sobre épico, sobre heroico, sobre um possível trabalho antropológico - de campo, de ir em busca - da diferença, dos moradores do rio de janeiro, de personagens capturados no dia-a-dia. falamos de caçar os super heróis (mas não resolvemos nada. tudo restou em aberto. como - talvez - tenha que ser neste momento).

saldo final (para mim) --- somar ficção com realidade. para que via ficção, a realidade se sinta convidada a se modificar.

destaco a seguir uma cena curta que escrevi em ocasião da oficina negociação invisível, realizada durante a segunda temporada de sinfonia sonho no teatro gláucio gill. o mote da oficina era investigar as relações estabelecidas entre os atores em cena de maneira invisível ao público. como ponto de partida, escrevi 10 cenas curtas a partir do universo de concreto armado. segue a décima cena:

dez

giz.

luz de giz.

som de giz.
ar sufocado de giz. 


t – não há nada mais sujo, mais injusto, mais escroto do que encher a barriga à custa da burrice do outro. as minhas mãos! nada mais doloroso do que ver a cegueira alheia e sentir pena de si próprio por ainda se achar lúcido. sujeira. nas minhas mãos! até agora eu não conhecia nada tão obscuro, maldoso, tão perdidamente escroto. nada tão tremendamente horrível, eu não conhecia nada tão sem palavras para dar conta dessa escuridão desse abismo desse monstro que nasce e cresce e só come e só vira mais monstro, mais rombo mais brusco mais risco quina sangue e abuso. mais usura. mais acne. mais suor e sono. mais tv e panetone. mais medo. mais nojo. as minhas mãos! eles sabem que eu sei! eles sabem que podem seguir se usando da burrice alheia. e da minha! e sabem que eu sei que a burrice só cresce. e que, no entanto, eu sou paga para diminuir isso que eles alimentam mais e mais a cada dia.

asfixia.

t – a burrice é a cama onde eles deitam os pés sujos todos os dias. quanto mais, melhor. quanto mais burro, melhor. melhor. quanto mais burro for seu povo, mais nobre será a sua falsa preocupação em cuidar do futuro. que não virá. que não veio. e, no entanto, nos tapeiam. fazendo de mim alguém contratada para atingir o impossível. querendo que eu crie em sala de aula seres capazes de lidar com o cinismo.

febre. e delírio.

t – e se eu fizer um exército? e se eu formar assassinos? ao invés de crianças? ao invés de alunos? serei presa ou serei justa? serei errada ou brilhante? eu sigo suja, sabendo da nojeira e ensinando estrelas. confiando na poesia quando vejo nas esquinas, as minhas crianças perdendo seus narizes e cabeças! eu tentando dar conta daquilo que já me disseram que não vai ser possível! como pode, meu deus?! como eu pude um dia ter me servido a isso? quando foi? que abri os olhos nessa envergadura que já não posso mais fechá-los? como pude ver meus sonhos – tão sinceros – virarem mentiras? as minhas mãos! tremem tentadas à truculência. eu quero premer. quero apertar e romper. quero, se possível, hoje, fazer pacto com o demônio para que ele me impulsione ao extermínio daqueles que querem me exterminar com doçura fingida.

escrevi tanta coisa e faltou o principal. elegemos o nosso mote, a nossa força motriz (ainda a ser descoberta). no mural do inominável, que fica em nossa sede (no meu quarto), tinha fixado um papel faz muito tempo: TRAGÉDIA DA REIFICAÇÃO. é isso. este espetáculo é sobre isso. queremos com ele justamente destruir a maquiagem que esconde a realidade tal qual ela se mostra (e agoniza).

não falamos da copa do mundo ainda. é isso mesmo. muita coisa. isso porque estamos estudando apenas para estruturarmos um número específico de ações que serão feitas no decorrer do ano. cada presente na reunião saiu dela com uma referência (dentre livros e revistas) para estudar até o próximo encontro.

é seguir.
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