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domingo, 9 de fevereiro de 2014

sobre a morte.

 

contamos história dentro de um teatro. mesmo a presença, ali no palco concentrada, quer contar história, serve para isso. para narrar o acontecido. todas as noites contamos a mesma coisa. ou seja, não há nada novo. a história, a fábula, ela sempre já terá acontecido.

pois sim. então, dessa maneira, não há inédito. há a mesma história ali sendo contada sempre e novamente de novo.

quer dizer: esses personagens narram o já ocorrido. ocorrido com eles. e eles só podem nos contar isso por um detalhe sórdido e específico: o teatro é uma experiência humana que nos permite brincar de morte. brincar com o já ido.

assim, se esses personagens já morreram nessa história, resta a eles nos contar sobre o vivido. sobre como foi o percurso, o trajeto, até chegarem nisso. naquilo. na morte. a morte dá a eles um saldo que escapa ao tempo. eles podem contar o que viram, como foi, como viveram. porque a morte interrompe, corta, cessa os ponteiros e abre apenas um clarão (de consciência).

quanto mais se afasta a morte da vida, mais a vida tenta suicídio.

selamos esse pacto. eles morrem. eles morreram sempre e de novo a cada início de peça. e a peça de teatro é o local onde podemos narrar o já ocorrido, a vida (sem segredos), expressa em afetos e conflitos.

era isso.

só para registrar.