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terça-feira, 9 de julho de 2013

Resposta à ação CONCRETO ARMADO IX realizada por Andrêas Gatto

Rio de Janeiro, 10 de Julho de 2013

Caro amigo Andrêas Gatto ---

Desde que sua ação aconteceu, não soube o que pensar. De uma hora para outra, me peguei surpreso vendo os "meninos da peça" indo pras ruas. De alguma forma, eu me senti responsável, preocupado, mas também desafiado a bancar a ousadia (que é criar, tanto obra como mundo).
Estive ensaiando o dia inteiro. O dia da sua performance. Estive ensaiando e fingindo não me importar. Mas, ao mesmo tempo em que ensaiava, lá longe de você, eu pensava meu pai do céu, como estará o Andrêas?!
Não se trata de escrever que fiquei preocupado. Isso todos nós ficamos. Mas se trata de um aspecto: o ato deliberado de ir, de perfurar, atravessar a cidade, tal qual faz palavra num papel, tal qual a caneta faz ao riscar o fundo branco das páginas.
Acho tão potente a decisão de ir. A ida. O vetor que atira e vai. E salta. E faz. Sei lá, fiquei pensando nisso, na deliberação.
Significado de Deliberação
s.f. Ação ou efeito de deliberar.
Resolução tomada depois de discussão.
Exame e discussão oral de um assunto.
Resolução tomada depois de reflexão.
Pois bem. O que eu tenho para te deixar são essas palavras. E a certeza da transformação. Foi-se tão claramente direto a algum ponto que o corpo mudou (condenou-se) e as palavras precisaram se redescobrir para dizer o já dito.
Quando recebi o seu e-mail, endereçado a todos dia após a performance, me assustei. Com a escolha das palavras. Com o enredo firme entre palavra seca e concreta e palavra alada e poética. A poesia entrou na linha dos seus olhos e ficou, feito pássaro impaciente por liberdade. Sei lá, cara. Não quero ler novamente o que você escreveu, mas ali, lendo aquilo, eu fiquei mudo e me remeti a um pedaço de fita crepe que tem colocada na parede do meu quarto.
Nesta fita crepe, eu escrevi faz anos, uma fala que considerava ser de uma personagem de CONCRETO ARMADO. Consta assim: "EU APRENDI PALAVRAS NOVAS VENDO AQUILO ACONTECER".

Diogo Liberano