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domingo, 22 de dezembro de 2013

O ALTO RISCO DE UM ATO --- Por Rodnei Nascimento

Artigo que faz um comentário sobre o livro DESERTO DO REAL de Slavoj Zizek
Leiam o curto texto completo em
http://www.forumpermanente.org/rede/numero/rev-numero7/rodneiparaSete

Seguem trechos:

É por isso que Žižek propõe como modelo de ação um Ato, na acepção lacaniana do termo, que rompe sim com as coordenadas de intervenção oferecidas pelo presente, mas sem cair na tentação de querer estabelecer uma identidade plena dos indivíduos com o mundo. Um Ato preservaria sempre um espaço de antagonismo entre os agentes e suas formas de representação.

Por trás dessa concepção está a idéia de que o antagonismo é única forma de relação autêntica possível com o mundo, visto que somente ele faz justiça à natureza da subjetividade humana, marcada por um princípio de inadequação entre si mesma e suas formas de representação. Toda tentativa de reconciliação absoluta seria não apenas falsa, ideológica, mas também uma violência a seu caráter essencial. Preservá-lo seria a única maneira de manter aberto o horizonte da ação humana e de conferir-lhe algum poder de intervenção criadora sobre a realidade.

Não se pode deixar de reconhecer a engenhosidade da solução do pensador esloveno que, ao  complementar a noção hegeliana sobre a negatividade da vontade com a inadequação essencial do sujeito tirada de Lacan, previne-se contra a queda do Ato numa identidade absoluta. Mas também não se pode deixar de constatar que tal estratégia comporta um alto risco. Pois um Ato não se estrutura pelas coordenadas do presente nem se deixa fixar positivamente,  ele é “um passo no desconhecido, sem garantias quanto ao resultado final”. Ou seja, comporta um sério risco de arbitrariedade, porque sua legitimidade não pode ser comprovada de antemão, nem se pode saber como será o seu fim.

Aceitar esse risco torna-se, entretanto, um imperativo no momento em que os referenciais disponíveis para a ação não são mais capazes de ensejar uma verdadeira mudança. A situação daqueles que se engajam num Ato seria semelhante à política revolucionária, em que a tomada de poder jamais pode obter validação dentro da própria ordem a ser derrubada. Nesse instante, “alguém tem de assumir o risco e agir sem legitimação, engajando-se numa espécie de aposta pascaliana de que o Ato em si há de criar as condições para sua própria legitimação”. Como se vê, a tarefa é perigosa, resta saber quem será capaz de assumi-la.